A existência de um considerável número de programas de Supply Chain Security no mundo leva a uma confusão sobre quais estratégias e objetivos devem ser adotadas pelas empresas. Apresentamos aqui alguns elementos fundamentais comuns a todos eles.
A Cadeia Logística é um campo do Comércio internacional onde os diversos atores devem se conformar a múltiplas regulamentações de nível internacional, nacional e local. O dinamismo nas Cadeias Logísticas é essencial para a continuidade da vida das diversas sociedades que coexistem no planeta. Qualquer interrupção em uma Cadeia Logística poderá rapidamente ensejar várias conseqüências econômicas, não somente nos lugares diretamente afetados, mas também nas áreas de influência. Posteriormente, poderia inclusive afetar lugares afastado de onde a interrupção se originou ou de onde haveria o consumo da mercadoria, onde está a unidade matriz da empresa afetada, e também entre os parceiros comerciais envolvidos neste processo.
Vê-se, portanto, a importância de que as empresas atuem de maneira preventiva, através de estratégias voltadas para a segurança, garantindo a redução de eventuais impactos de interrupções nas suas Cadeias Logísticas Internacionais. A implementação de estratégias requer esforços combinados de entidades governamentais, privadas e outras organizações, como a Organização Mundial das Aduanas (OMA). Conforme apresentado neste cenário, a Segurança da Cadeia Logística é um problema global, que não pode ser ignorado ou tratado de maneira unilateral.
Os pontos críticos e principais componentes da Supply Chain Security
Em estudo desenvolvido pelo Banco Mundial no ano de 2008[1], foram analisados 18 modelos de Cadeias Logísticas internacionais, com a finalidade de identificar características comuns entre elas. A conclusão foi que as similaridades superavam as diferenças entre elas; assim, seus elos (os pontos onde ocorrem certos tipos de operações) poderiam ser em certa parte padronizados, proporcionando uma descrição adequada a todo o transporte no fluxo de mercadorias.
Adicionalmente, concluiu-se que os elos de uma típica Cadeia Logística Internacional são funcionais por natureza, e podem servir como pontos de Controle de Segurança – pontos onde ameaças, vulnerabilidades e conseqüências podem ser identificadas, caracterizadas e analisadas, e medidas de segurança podem ser desenhadas. Da mesma maneira, os fluxos do transporte internacional de mercadorias podem ser vistos como algo análogo, em praticamente todos os meios de transporte.
Esse estudo estabeleceu 16 elos ou pontos críticos de Segurança por onde passam as mercadorias, em seu processo pela Cadeia Logística Internacional. Esses pontos são:
1. Origem da mercadoria (fornecedor ou fábrica);
2. Origem dos envases (final de processo produtivo);
3. Origem dos containers ou outras embalagens;
4. Montagem da carga ou embalagem;
5. Consolidação da carga em volumes ou lacração do container;
6. Armazenamento para a espera do transporte;
7. Movimentação da mercadoria para o local de embarque ao exterior;
8. Ponto de embarque para o exterior (aeroporto, terminal marítimo ou instalação, empresa de transporte ou outros pontos de transferência terrestre);
9. Transporte internacional;
10. Ponto de entrada no país de destino (aeroporto, terminal marítimo ou instalação, empresa de transporte ou outros pontos de transferência terrestre);
11. Movimentação para o local de desconsolidação da mercadoria;
12. Armazenamento de espera para liberação do processo (área alfandegada);
13. Desconsolidação dos containers ou outras embalagens;
14. Movimentação até o local de destino da mercadoria;
15. Local de destino ou recebimento da mercadoria;
16. Todo fluxo de informação associada ao processo da mercadoria.
De acordo com estes itens, assegurar a Cadeia Logística Internacional requer a solução de questões relacionadas diretamente com a segurança da infraestrutura, instalações, veículos, pessoas, mercadorias e das informações. Planejar esta atividade significa elaborar planos e direcionar esforços também para atividades complementares, tais como controle de acesso, monitoramento, recrutamento e seleção de colaboradores, seleção de parceiros comerciais, uso de sistemas eletrônicos seguros e outros mais.
Quais as melhores práticas a serem adotadas pelas empresas que atuam no Comércio Exterior?
A evolução das práticas e estratégias de gestão na Cadeia Logística tem sido definitivamente muito rápidas, isso graças à necessidade de atender de maneira eficiente às demandas comerciais, fazendo com que todas as partes do mundo sejam abastecidas da maneira que os negócios necessitam, sempre nos menores tempos e com os menores custos possíveis. Esta é a direção e o objetivo de todos os intervenientes que participam dos fluxos nas Cadeias Logísticas, em qualquer lugar do mundo e em todos os mercados possíveis.
No mundo moderno, para atender aos requisitos de flexibilidade e rapidez frente às mudanças constantes no mercado, as empresas devem atuar de maneira colaborativa, compartilhando informações com outros membros da Cadeia Logística. Atualmente esta é a melhor prática a ser adotada por uma empresa. Este processo de atuação e planejamento colaborativo contempla uma verificação básica das técnicas e métodos para a melhoria na eficiência das Cadeias Logísticas. Nas redes de transporte esses processos facilitarão a participação destas empresas em projetos mais amplos, dentro das cadeias de valor de seus clientes, atuando assim de maneira cooperativa para o desenvolvimento de todas as partes envolvidas.
Abaixo é apresentado uma relação das melhores práticas para o aperfeiçoamento dos fluxos logísticos, fruto de um estudo realizado até o momento. A interpretação destas práticas requer que o leitor analise o atual contexto globalizado em que a sua empresa opera e qual o formato adotado para a Gestão de Suprimentos e Distribuição das mercadorias, um desafio bastante complexo, arriscado e custoso que poderá resultar em um possível fracasso, se estes riscos não estiverem alinhados com uma estratégia coerente e que aborde o contexto, que deve estar perfeitamente alinhado e integrado com os objetivos e estratégias da empresa.
1. Conhecimento e análise profunda de seus processos
A primeira melhor prática que a empresa deverá considerar, como ponto de partida, é o conhecimento e avaliação profunda de seus processos, para determinar se a aplicação de uma “melhor prática” efetivamente resultará em benefícios. Baseada nesta análise preliminar, a empresa deverá determinar quais adaptações deverão ser realizadas na “melhor prática”, para que esta se encaixe adequadamente em sua estratégia de negócios, no modelo operacional (processo) e em seus objetivos.
2. Troca de informações entre os membros das Cadeias Logísticas
Diante do contexto globalizado e dinâmico que as empresas tem que atuar nos dias de hoje, o que deve ser encarado como ponto fundamental – para a alcançar a flexibilidade e a velocidade de resposta às mudanças súbitas do mercado – é a prática do planejamento e operação colaborativos, com a troca de informações entre os membros da Cadeia Logística. É conveniente realizar uma abordagem estruturada e dirigida para uma autêntica gestão do conhecimento, que permita desenvolver alianças e compartilhar conhecimentos e recursos entre os membros.
3. Efetiva gestão de mudança sobre o modelo de colaboração
A transição a ser feita para este modelo colaborativo não é simples e nem fácil, e requer, fundamentalmente, uma mudança cultural, para transcender as relações meramente comerciais e alcançar verdadeiras relações de Valor. Uma adequada gestão da mudança deverá analisar, revisar e adequar aspectos tais como a cultura da empresa, sua estrutura organizacional, seus objetivos e sua estratégia de negócio, para que assim possa ser dirigida para um sistema de gestão mais amplo e estendido, que abranja e comprometa todos os membros da Cadeia Logística, com o objetivo de alcançar a participação de todos em busca de um benefício comum.
Quando aplicado o modelo colaborativo, não se visualiza apenas o sucesso individual, mas sim o do conjunto e de todos os seus membros – por isto a necessidade e importância de se gerenciar muito bem esta mudança.
4. Como é realizada a previsão de demanda, do cliente até seu fornecedor
A quarta melhor prática tem a ver com a origem dos dados a serem utilizados para a estimativa da demanda. Independentemente do método, procedimento, sistema ou ferramenta de previsão que será utilizada, o importante é que a estimativa da demanda seja realizada do cliente até seu fornecedor, ou seja, em toda cadeia de abastecimento.
5. Utilização de tecnologia de ponta em Sistemas de Informação e Telecomunicação, conforme a necessidade da empresa
A troca de informações entre os membros da Cadeia Logística é um processo mandatório para as boas práticas colaborativas. Essa troca acarreta a necessidade de melhoria contínua dos processos de comunicação, de transparência e de tomada de decisão em todas as fases de gestão produtiva de um produto ou serviço, e por consequência, requerem uma sólida plataforma tecnológica, que habilite e facilite os processos de conectividade e intercâmbio em tempo real. Portanto, o uso da Tecnologia de Informação deverá suportar os processos, havendo assim a necessidade de que as aplicações estejam adaptadas de acordo, para poder cumprir com sua funcionalidade e proporcionar o máximo de agilidade, com a qualidade e a rentabilidade esperadas.
6. Impulsionar a inovação através da integração e colaboração
Fazendo o uso da sinergia que surgirá através da integração dos membros da Cadeia Logística em um ambiente colaborativo, a inovação cada vez mais deixará de ser um processo fechado, puramente interno, para converter-se em um processo mais aberto, com múltiplas entradas, com a participação de clientes, fornecedores e outros parceiros do negócio.
7. Aproveitar a contratação externa para alcançar os melhores benefícios
A sétima melhor prática refere-se a estratégia de contratação externa, amplamente conhecida como terceirização ou outsourcing. O sucesso de um processo de terceirização diferenciado está atrelado diretamente à capacidade de criar e manter parcerias saudáveis entre contratantes e contratados. Para tal, é necessário constituir uma relação amistosa, harmoniosa, baseada na confiança mútua e que consiga estabelecer certa cumplicidade entre os parceiros. Este processo deve ser entendido como uma prática que se estabelece com o propósito de ofertar maior qualidade, dinamicidade e flexibilidade, resultando no rearranjo dos custos para as empresas tomadoras de serviço. Mas – como toda ferramenta que é inserida no contexto organizacional – esta deve ser amplamente analisada e contextualizada, para que venha efetivamente auxiliar as empresas a modernizar seus processos de gestão.
8. Medição de desempenho na Cadeia Logística
O uso efetivo de Indicadores de Desempenho, como atividade-base para a implementação de melhoria contínua na Cadeia Logística, é um processo chave de mudança e, portanto, de adaptabilidade e agilidade da empresa, estas são duas competências importantes no momento de se definir e estabelecer o direcionamento interno e externo (com clientes e fornecedores) desta.
9. Qualificação ou especialização dos Recursos Humanos
Por último, não podemos deixar de mencionar dentro da relação destas melhores práticas, a importância de contar com Recursos Humanos qualificados, que conheçam os princípios, metodologias, processos e ferramentas que norteiam a Cadeia Logística, para o desenvolvimento de práticas gerenciais na empresa que propiciem a geração de valor para o sucesso do negócio.
[1] Fonte: World Bank / Department for International Development – DFID 2009