SEGURANÇA DA CADEIA LOGÍSTICA E SEU IMPACTO NA COMPETITIVIDADE DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

A segurança logística é um tema de crescente importância global, e crucial para o desenvolvimento dos países devido aos efeitos nocivos, tanto econômicos quanto sociais, que a interrupção de uma cadeia logística pode causar e, portanto, é essencial que se tenha uma coordenação local, bem como regional, contemplando as diferentes iniciativas públicas e privadas nesta área.

A interrupção de uma cadeia logística, seja ela produto de uma falha operacional, de atos criminosos ou terroristas, proporcionará enormes impactos negativos para a competitividade da economia nacional, onde às perdas diretas, produzidas pelo próprio fato ocorrido, se somam os seus efeitos de propagação nas restantes etapas deste fluxo de abastecimento, promovendo assim atrasos e não cumprimentos aos clientes, perda de contratos ou aumento dos níveis de inventário, necessários para fazer face à maior variabilidade dos prazos de entrega, entre outros possíveis fatores, que acabam por agravar os custos logísticos nacionais.

No caso dos países latinos e centro-americanos, a questão é ainda mais estratégica diante da crescente criminalidade (como o tráfico internacional de drogas) que afeta as cadeias logísticas e, com ela, o encarecimento do custo operacional deste processo. Juntamente a este fato também é possível contabilizar os efeitos econômicos desastrosos sobre a economia, com perdas de competitividade, danos à imagem nacional, redução de investimentos (nacionais e estrangeiros), retração da produtividade, encarecimento dos produtos e outros direta ou indiretamente associados a este processo.

Impacto da segurança na eficiência e competitividade

É necessário o claro entendimento que a segurança para a cadeia logística requer uma abordagem coordenada entre os setores público e privado. O Estado é responsável por fornecer a infraestrutura e os serviços necessários para garantir um nível aceitável de segurança física (segurança), além de garantir o bom funcionamento dos serviços de infraestrutura de transporte (segurança). O setor privado, por sua vez, é responsável por implementar as medidas internas de segurança e suporte necessárias para garantir uma adequada gestão de riscos e o funcionamento de seus processos. Soluções privadas para o problema da insegurança como contratação de seguros, implementação de vigilância ou guarda armada nos transportes, entre alternativas implementadas unilateralmente, têm se mostrado em alguns casos ineficientes, justamente pela falta de abrangência da abordagem, tornando assim os custos operacionais mais altos, com os consequentes prejuízos econômicos e sociais.

Nesse sentido, o tema relacionado a gestão das cadeias logísticas deve ser tratado de maneira integrada, evitando a atomização e o isolamento das iniciativas de investimento, estimule a colaboração entre os entes públicos que regulam o comércio exterior com os operadores de transporte e demais agentes comerciais.

É necessário destacar também que a segurança logística tem um importante componente regional. Ou seja, a crescente interdependência das redes logísticas reforça a necessidade de uma coordenação de ações em nível regional, por exemplo, para enfrentar o crime organizado e o terrorismo internacional. Além do exposto, a contaminação de remessas legítimas com drogas por narcotraficantes é um importante aspecto que afeta a logística regional a tal ponto que o escritório das Nações Unidas indicou que a esta criminalidade é o fator de maior impacto na estabilidade e na economia.

Assim entendemos que a segurança logística também está intimamente relacionada com a facilitação do transporte e do comércio, coexistindo esses três elementos em um delicado equilíbrio, onde, se forem impostas medidas extremas de segurança, anula-se a facilitação do transporte, agravando o custo logístico ao ponto de inviabilizar o escoamento do transporte e, consequentemente, o comércio. Pelo contrário, se a ênfase for colocada numa extrema facilitação dos processos, as medidas de segurança tornam-se insuficientes ou nulas, com o que também não é possível a existência de comércio transfronteiriço.

Iniciativas e Padrões de Segurança

Apesar deste cenário dramático, não se pode deixar de referir aos enormes esforços que, tanto o setor público quanto o privado fazem diariamente para combater a insegurança e resolver este flagelo. Muitas iniciativas e padrões de segurança surgiram na arena internacional para proteger o comércio internacional de ameaças terroristas e tráfico ilícito de produtos, como o Programa de Operador Econômico Autorizado (OEA) da Organização Mundial das Aduanas, o Customs-Trade Partnership Against Terrorism (C-TPAT), Business Alliance for Secure Commerce (BASC), certificações de qualidade e segurança, como a norma ISO 28.000, que é uma norma transversal que promove as melhores práticas em auditoria de riscos e gestão de eventos de segurança na cadeia de suprimentos, e outros que contaram com a participação ativa e determinada de órgãos públicos e privados.

Salientamos que em todos estes programas, existe um esforço para integrar os diferentes entes que compõe as cadeias logísticas internacionais, buscando a promoção de forma a harmonizá-los e obter os melhores resultados; Para facilitar a articulação, troca de informações e experiências, entre as diversas instâncias e órgãos operacionais para o combate de maneira mais efetiva à criminalidade regional; Promover uma desburocratização do processo para as empresas habilitadas; bem como identificar e gerir as necessidades financeiras, de recursos e de formação exigidas pelas certificações relacionadas à segurança.

Nossas Considerações

Desde os eventos de 11 de setembro de 2001, muitas iniciativas e padrões de segurança surgiram e se expandiram para lidar com a ameaça do terrorismo internacional, a infiltração no fluxo de mercadorias pelo crime organizado e a necessidade de gerenciar com eficiência o risco de redes de fornecimento. No entanto, essa necessidade de implementar programas de segurança e reduzir o custo logístico requer uma abordagem mais abrangente para melhorar o desempenho logístico dos países, com a finalidade de coordenar esforços e alcançar os objetivos de redução de riscos e custos excedentes indesejados.

Assim surge a necessidade de propor políticas integradas de segurança no comércio exterior, em articulação com as políticas nacionais de segurança e logística de facilitação do comércio e transporte interno, a fim de alcançar soluções eficientes em tempo hábil e com os menores custos possíveis de risco e gestão em cadeias logísticas. Nesse ponto, é necessário promover uma efetiva aliança público-privada com vistas a reduzir custos e melhorar a eficiência das ações desenvolvidas, além da segurança portuária ou dos trânsitos em âmbito aduaneiro, que são os elos da cadeia onde até agora os esforços se concentram.

É imprescindível que se promova uma integração de todos estes elementos, para que se coordene e congregue os diferentes interesses, tanto públicos como privados, e assim gerar soluções completas e eficientes. Reforçamos também a importância de uma participação mais abrangente dos atores privados, para que se possa contemplar os três eixos propostos e inter-relacionados de Facilitação x Controle x Gestão, que estimule a abertura de novos mercados, promova a cultura do risco tempestivo, a redução sistemática dos custos logísticos, e favoreça a inovação e a incorporação de tecnologia para geração de valor.

 

Outra proposta que podemos contemplar é a criação de comissões público-privadas locais e nacionais, vocacionadas para a implementação de ações específicas de mitigação e assim melhorar o nível de serviço (em tempo e custo) bem como a facilitação de todo fluxo da cadeia logística.

Por fim, listamos algumas iniciativas que podem ser trabalhadas com a finalidade de atingir esse objetivo:

  1. Implementar estruturas para definir as cadeias logísticas críticas e prioritárias nas quais são realizados estudos e programas de melhoria da segurança.
  2. Definir, de maneira clara, a categorização e forma de monitoramento dos fatores e eventos nocivos que dificultam, tornam difícil ou inseguro o trânsito regular das cadeias logísticas, com especial destaque para o transporte de mercadorias com destino internacional.
  3. Gerar amplo conhecimento no setor privado, sobre os possíveis eventos criminais e modo de operação dos criminosos, das formas que essas informações são compartilhadas, e para a importância da implementação de um Sistema de Informação para mitigar este risco de exposição e vulnerabilidade.
  4. Implementar nas empresas (todos os segmentos) um processo de análise crítica das informações aduaneiras.
  5. Aos transportadores, realizar uma caracterização detalhada do impacto da infraestrutura física nos incidentes de segurança, como: falta de áreas de descarga ou descanso para motoristas, má manutenção de rotas etc.
  6. Promover uma conscientização em toda cadeia logística sobre a importância na rastreabilidade de carga e transporte ao longo do fluxo logístico internacional, independentemente do INCOTERM utilizado na operação.
  7. Melhor orientação e simplificação dos programas de segurança, para que estejam direcionadas as efetivas características operativas das empresas, bem como se adapte melhor as estruturas de pequenas e médias empresas que atuam no fluxo comércio internacional.

Escrito por Daniel Gobbi Costa

http://www.consultoriaoea.com.br

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