COMO LIDAR COM OS FATORES DE RISCO NAS CADEIAS INTERNACIONAIS DE SUPRIMENTOS?

A globalização trouxe consigo não só o aumento dos fluxos comerciais e a especialização das cadeias produtivas, mas também uma série de riscos de natureza diversa, que ameaça diariamente a segurança das comercializações, razão pela qual é hoje uma das áreas críticas de estudo e de maior interesse, tanto para os tomadores de decisão quanto para os diversos atores que interagem nas cadeias logísticas internacionais. Por este motivo, a avaliação e a gestão de riscos são atualmente apontadas como elementos relevantes para a competitividade das empresas e, especificamente, para garantir a segurança integral nestes fluxos (importação e exportação).

Como o acima exposto, os impactos negativos, causados pela ineficiência das cadeias logísticas, vão desde atrasos ou não cumprimentos de entregas por parte dos fornecedores, até constantes aumentos dos custos operacionais e pela necessidade de as empresas manterem altos níveis de estoques de segurança.

Como podemos identificar os riscos?

Neste contexto, o conceito de risco pode ser definido de forma geral, como todas aquelas eventualidades com potencial de ocorrência que possam afetar, impedir ou suspender o funcionamento normal de uma atividade, impactando negativamente seus custos ou imagem pública, bem como suas relações com os diferentes atores externos com os quais se interage.

No entanto, as suas possibilidades de ocorrência e o dimensionamento do impacto negativo nas operações empresariais, exigem uma análise particular para identificar o tipo de risco, a sua classificação e o grau de exposição gerado por eles. Esta analise também demandará, por parte das empresas ou das cadeias logísticas, a definição de medidas preventivas, ou linhas de ação em caso de sua eventual ocorrência, bem como a implementação de medidas que visem a cobertura e que mitiguem seus efeitos indesejados, este conjunto de ações, é o determinado como Plano de Riscos ou Vulnerabilidade da empresa.

A cadeia de logística e seus riscos

No contexto atual, não é mais possível ignorar a incorporação da gestão de riscos no desenho no fluxo das cadeias logísticas internacionais, embora esse elemento sempre tenha estado presente (ou espera-se que sim) no processo de harmonização entre as atividades exercidas pelos atores dos processos de importação e exportação.

Com efeito, este conjunto de conexões, que vão desde os fornecedores dos fornecedores aos clientes dos clientes, passando pelos processos internos de cada empresa, até chegar ao consumidor final, apresentam diferentes graus de exposição a riscos, como:

  1. de escassez., promovendo interrupções nos fluxos normais de abastecimento, necessários à realização dos processos produtivos e de transformação, motivadas por diversas causas, entre as quais os níveis de oferta e demanda; preços, greves e paralisações e presença de pragas, vírus, bactérias ou epidemias em insumos de origem agrícola, entre outros.
  2. documentais e procedimentos de comércio exterior, pela promoção de atividades ilegais, ações de pirataria e aumento do contrabando, de controles, exigências e procedimentos estabelecidos pelas autoridades aduaneiras, relacionados principalmente à saúde, segurança agropecuária, economia, direitos autorais e questões de segurança das diferentes nações, para regular os fluxos de troca de mercadorias. Estes processos tornaram-se cada vez mais rigorosos e complexos a par da imposição de sanções pecuniárias face a erros, omissões e documentação comprobatória incompleta ou apócrifa, até consequências de natureza criminal, para os casos de violação dolosa de normas estabelecidas.
  3. de armazéns e inventários, com o manuseio, conservação e proteção de produtos acabados, impactando em prazo de validade, danos por manobras, perdas, obsolescência, furto, variações de temperatura, incêndios e alagamentos, entre outros. Adicionalmente, em particular, existem diferenças entre os saldos documentais versus os físicos, que em casos críticos podem afetar significativamente os níveis de serviço ao cliente.
  4. de trânsito, com a movimentação e transferência de produtos, através dos diferentes canais de distribuição, significando um dos maiores desafios em termos de segurança.
  5. por quebra de contratos ou pagamentos, onde, devido às distâncias entre os países, e às diferenças linguísticas/culturais pode ocorrer uma maior exposição a este tipo de risco. É possível que, quando as mercadorias cheguem ao ponto de entrega, conforme definido pelo INCOTERM utilizado na atividade, haja discrepâncias quanto às condições contratuais pactuadas, seja por aspectos de qualidade, características da mercadoria, apresentações, acondicionamento e outros que podem levar a rejeições, devoluções ou redução dos preços originalmente acordados.
  6. devido a flutuações da taxa de câmbio, dado o cenário econômico mundial caracterizado por alta volatilidade e tendências de oscilações em alguns mercados.
  7. climáticos e fenómenos naturais, com a presença das chamadas “mudanças climáticas”, consideradas como uma ameaça digna de ser levada em consideração durante o desenho e planejamento das cadeias logísticas, devido a incidência de chuvas torrenciais com ocorrência de furacões, tufões e grandes tempestades.
  8. tecnológicos, onde cada vez mais a sociedade é altamente dependente das tecnologias de informação e comunicação, que podem promover interrupções ou mau funcionamento das redes virtuais, de serviços e suporte aos sistemas, ou por acessos indevidos através de invasões ilegais.
  9. e muitos outros.

Nesse sentido, e com as tendências crescentes de modernização aduaneira, com a implementação da Janela Única para o Comércio Exterior que, além da questão aduaneira, inclui também de maneira providencial e necessária uma estreita inter-relação com outros órgãos governamentais envolvidos nestes trâmites, proporcionando desta maneira um maior controle, uma melhor capacidade de atendimento, e um aumento na velocidade do processamento de diferentes atividades, bem como para suas eventuais limitações e falhas, pode este cenário representar um fator de risco e alta dependência, para os diversos atores nas cadeias associadas às trocas comerciais internacionais.

Medidas preventivas e iniciativas para melhorar os níveis de segurança  

Partindo da premissa de que, um maior conhecimento dos riscos e dos níveis de exposição a eles pelas empresas, contribuirá para um melhor planejamento, adoção e aplicação de diferentes medidas preventivas nas cadeias logísticas internacionais, diferentes iniciativas de diferentes instituições, órgãos governamentais e organismos internacionais, visando na melhoria do nível de segurança na cadeia logística internacional foram elaboradas. Como exemplos de padrões de segurança podemos citar os seguintes: ISO 28001, ISO 31000, C-TPAT, EU-AEO, IRU, BASC, CASCEM, PACS, PIP, Golden List, ISPS, TAPA, ISA, CSI, APEC-STAR, CSP, NEEC e outros.

Segundo o Institute of Risk Managers, a gestão de riscos na cadeia logística deve ser entendida como: “a disciplina que busca identificar possíveis interrupções no fluxo de abastecimento, bem como os riscos derivados da exposição financeira e comercial”.

E com base em suas estruturas, várias iniciativas denominadas como básicas, reativas, proativas e avançadas, podem ser implementadas, em conformidade com a adequação da estrutura empresarial e suas características, levando em consideração os diferentes tipos de risco, o nível de resposta de cada iniciativa e o grau de vulnerabilidade destas cadeias de abastecimento, onde temos:

  1. Básico: com a implementação de medidas de segurança física; segurança pessoal; avaliações de risco padrão; segurança informática básica; plano geral de continuidade; proteção de mercadoria.
  2. Reativo: com a implementação de medidas visando o aumento dos esforços dedicados à melhoria da segurança; conformidade com programas internacionais como OEA, C-TPAT e outros; análise da base de parceiros comerciais; plano de continuidade do negócio; qualificação e treinamento de pessoal, análise crítica dos pagamentos de infrações e outros danos em caso de eventos perturbadores.
  3. Proativo: com a criação de um cargo de diretoria para segurança corporativa; contratação de pessoal especializado com experiência militar ou de inteligência; avaliações de risco abrangentes e formais; segurança informática avançada; participação em comitês de análises de riscos em segurança para análise de problemas comuns.
  4. Avançado: com a ampla colaboração entre toda cadeia de abastecimento e parceiros comerciais; com o aprendizado contínuo e com o passado; com a implementação de estratégia formal de segurança; aplicação de exercícios e simulações para reativação rápida de abastecimento; e implementação de centros de controle.

O objetivo dessas iniciativas é permitir que as cadeias logísticas recuperem os níveis normais de atendimento para as empresas, no caso de um evento disruptivo, no menor tempo possível e com o menor custo.

No entanto, devemos estar cientes que nem todos os atores deste fluxo compartilham o mesmo tipo de percepção de risco e isto pode impactar negativamente no processo. Desta maneira, é de extrema importância que se crie e promova um processo de conscientização, para que toda cadeia logística possa atuar de forma colaborativa, mitigando seus riscos e vulnerabilidades, e com isto, proporcionando um melhor ambiente comercial para todos os envolvidos.

Planos de Vulnerabilidades e Continuidade

Atualmente, todas as empresas deveriam pensar em possuir e gerir um Plano de Vulnerabilidades e Continuidade, de forma a entender adequadamente a sua exposição ao risco e promover uma cultura de segurança e proteção de suas atividades, em todos seus níveis de atuação e, sobretudo, na tomada de decisão, tanto para mitigar quanto prevenir o risco, bem como promover mecanismos adequados que permitam tratá-lo, no caso de sua eventual ocorrência.

Nesse sentido, além das considerações já apresentadas neste material, é necessário que as pessoas considerem as diferentes alternativas de ação para manter a continuidade dos negócios, com o menor impacto e o menor custo possível.

Importante frisar, que o objetivo central de todo este processo é conseguir integrar, através de um plano estruturado, uma gestão que proporcione, a todo momento, a visibilidade, a rastreabilidade, o controle e a segurança dos processos sobre os riscos.

Escrito por Daniel Gobbi Costa

http://www.consultoriaoea.com.br

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