Em um ambiente cada vez mais competitivo e exigente como para as atividades de comércio exterior, a certificação junto ao Programa Brasileiro de Operador Econômico Autorizado (OEA) torna-se, sem dúvida, um grande diferencial. Empresas que conquistam essa chancela são reconhecidas pela Receita Federal e demonstram ao mercado e aos seus parceiros comerciais que operam com elevado nível de conformidade, segurança e confiabilidade.
Contudo, uma pergunta precisa ser feita de forma honesta e estratégica.
Sua certificação OEA é de fato vivenciada como ferramenta de gestão e melhoria contínua, ou tornou-se apenas uma conquista simbólica — um diploma na parede, sem reflexo real nas operações?
Este questionamento te convida a refletir sobre essa distinção, os riscos de uma certificação meramente formal e os caminhos para transformar este seu status de “certificado” em “realmente autorizado e reconhecido”.
Para começar é importante reconhecer que, ser um Operador Econômico Autorizado vai muito além de atender checklists ou montar pastas com documentos para auditoria. É um processo de mudança, de internalizar e aplicar no dia a dia da empresa uma cultura de controle, de previsibilidade e confiança para suas operações aduaneiras.
Significa que os processos críticos estão mapeados, que os riscos estão controlados, e principalmente, que os profissionais sabem o que fazem e por que executam tais atividades, no mais, as não conformidades são analisadas criticamente e tratadas, e as melhorias são constantes.
Também é muito importante aqui destacar que várias empresas caem na armadilha de tratar a certificação como um fim, e não como um meio. Conquistam a cerificação OEA, comemoram com razão, mas, com o passar dos meses, relaxam nos controles, desmobilizam a equipe interna e não integram a cultura para uma efetiva gestão OEA em sua rotina operacional. Tornando assim o processo algo meramente simbólico e se afundando em uma cômoda zona de conforto.
Esse tipo de abordagem atrai grandes riscos, como por exemplo:
- a perda de credibilidade diante da Receita Federal e do mercado;
- uma desconexão entre a alta gestão e a operação, levando a falhas de execução;
- o aumento na vulnerabilidade dos processos, em possíveis fraudes, inconformidades e riscos logísticos;
- na inviabilidade de manter o status OEA em auditorias de manutenção ou revalidação;
- no custo elevado com retrabalhos e ações corretivas por não tratar as causas de forma antecipada e sistêmica;
- dentro outros tantos possíveis.
Desta maneira mudanças devem ocorrer para que sua certificação seja verdadeiramente estratégica, ela precisa estar integrada a quatro pilares essenciais da gestão empresarial:
- Pessoas engajadas e qualificadas – A cultura OEA só se sustenta quando todos os envolvidos — da diretoria ao “chão de fábrica ou operacional” compreendem seu papel, conhecem os controles aplicáveis e atuam de forma ética e proativa. Treinamentos contínuos e comunicação clara são indispensáveis.
- Processos consistentes e bem documentados – O processo não pode estar apenas no papel. A rotina operacional precisa refletir o que está descrito nos procedimentos. Qualquer desvio entre o “deve ser” e o “ser” enfraquece o sistema de gestão e expõe a empresa a riscos, incluindo a efetiva perda da certificação.
- Indicadores de desempenho e monitoramento – Monitorar o desempenho dos controles internos, no âmbito aduaneiro e de segurança é fundamental para garantir conformidade. Indicadores precisam ser analisados e utilizados como base para a tomada de decisão.
- Melhoria contínua – Auditorias internas, análise de riscos, plano de ação de não conformidades, tudo isso precisa ser rotineiro, não episódico. Ser uma empresa OEA é querer melhorar sempre, com método e visão sistêmica.
Ser uma empresa OEA é assumir um compromisso institucional com a conformidade, com a segurança e com a fluidez do comércio exterior. Uma empresa que trata a certificação apenas como um troféu decorativo perde a chance de colher os reais benefícios do programa: prioridade no despacho, redução de exigências, reputação no mercado, previsibilidade logística, resiliência diante de crises e fiscalizações e principalmente, uma melhoria interna de suas estruturas de gestão.
E a partir disto, fica aos profissionais de gestão e de operação o desafio: vivenciar o OEA diariamente ou correr o risco de ter apenas um título sem substância.